Na
década de 1960, certa vez, chegando à amada cidade de Buriti, terra dos meus
saudosos pais, Aderson e Francisca Carvalho, descendo o morro, avistamos a
vastidão da Lagoa Grande e a torre da igreja na praça. Esta se impunha, altiva,
diante de dezenas belos casarões do seu entorno. As cortinas da saudade de um
tempo anterior se abriam diante de nossos olhos. Eu, um menino feliz, sorria e
sonhava com a ideia de que, no brejo, havia um "rio".
Na
verdade, era um pequeno riacho, fundo, que fluía lentamente entre buritis e
mangueiras, juçassaras e carnaúbas. O lugar era um refúgio para saguis, mucuras
e preás, além de ser lar para siricoras, nambús, jaçanãs e jandais.
Borbulentas, rouxinóis e canoros sabiás também faziam parte daquela paisagem.
Vivins,
rolinhas, xexéus, currupiões, beija-flores e até pica-paus também compunham o
cenário. A melodia do lugar era formada pelos cantos desses pássaros, que se
uniam ao som dos ventos e redemoinhos.
Mas,
como em todas as histórias, o tempo passou rápido demais. Nas asas dos sonhos,
muitas ilusões foram criadas e muitos pores do sol foram contemplados. A
saudade chora e lamenta a passagem do tempo. Hoje, o que impera é a vontade dos
homens, muitas vezes insanos e alheios às dores da natureza.
- Poeta, contista e cronista.
Foto: Portal Buritiense
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